Vírus da sida surgiu há 100 anos
Estudo publicado na revista “Science”
07 Outubro 2014
O vírus da sida surgiu em Kinshasa, atual República Democrática do Congo, há cerca de um século, dá conta um estudo publicado na revista “Science”.
O estudo, que contou, com a participação de dois investigadores portugueses, defende que o HIV-1, surgiu no antigo Congo Belga, uma novidade em relação a todos os estudos sobre a epidemia.
Nuno Faria, da Universidade de Oxford, Reino Unido, é o primeiro autor do estudo, que realizou a análise genética de centenas de amostras de vírus tendo conseguido provar que foi em Kinshasa que tudo começou, há quase um século.
O outro investigador português, João Sousa, da Universidade Católica de Lovaina, Bélgica, e que também está ligado ao Instituto de Higiene e Medicina Tropical, explicou à agência Lusa que, no estudo, se conseguiu provar que o vírus de Kinshasa era o mais antigo.
Apesar de o vírus ter origem em chimpanzés dos Camarões, terá sido transmitido aos humanos em algum episódio de caça e teria chegado a Kinshasa num ser humano, explicou João Sousa à agência Lusa. Na opinião do investigador, as doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis, que na altura grassava em Kinshasa, terão ajudado muito a propagar o HIV-1.
O antigo Congo Belga tornou-se independente em 1960 e logo a seguir, imigrantes do Haiti, nomeadamente professores, foram destacados para o Congo, pela ONU, para ajudar no desenvolvimento do país. Esses profissionais estiveram sobretudo em Kinshasa, onde alguns terão sido infetados, disse João Sousa.
O investigador refere ainda que no regresso a casa levaram com eles o vírus. “No Haiti, o vírus propagou-se” e, em finais dos anos 60 e início dos anos 70, o Haiti tinha uma grande indústria de turismo sexual, especialmente procurada pela comunidade homossexual dos Estados Unidos, o que levou a que os primeiros casos da doença tenham sido reportados junto de homossexuais norte-americanos.
Estas explicações de João Sousa são corroboradas pelas análises genéticas de vírus recolhidas no Haiti e na informação que está “escondida” no material genético. Desde que se começou a desenvolver em Kinshasa até ser descoberto nos Estados Unidos, o vírus não deixou de se propagar.
Nos anos 80 teria já infetado centenas de milhares de pessoas e, quando surgiu nos Estados Unidos, os meios de diagnóstico eram mais sofisticados, lembra o investigador.
ALERT Life Sciences Computing, S.A.
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