Violência
no Namoro
Há
coisas que ninguém quer ver. Ninguém quer existir numa realidade onde o amor já
não é amor, onde se calhar o amor nunca foi amor. Vemos nos filmes que o
príncipe encantado resgata a princesa e eles vivem felizes para sempre. Mas a
Branca de Neve foi levada para longe dos seus 7 amigos baixotes e a Bela vivia
presa num castelo. E também há histórias assim. Há tantas histórias de pessoas
que sem qualquer título real vivem presas num outro castelo, mais forte e alto
e com grades de ferro que não os deixa sair.
É fácil
prender o outro num castelo assim. Engodamos o outro com um cheirinho a amor,
carinho e compreensão. Depois, prendêmo-los num abraço demasiado longo e
demasiado apertado que incomoda e quase dói. E o outro, já bêbedo desse cheiro
a amor, não vai dizer nada. Depois sussurramos ao ouvido coisas más. Sim,
coisas muito más. Vamos e pegamos na já de si frágil autoestima do outro e
vamos depená-la, pena a pena, com calma e sem deslaçar o abraço. Quando o outro
cair, será nos nossos braços. Não vai ter mais ninguém depois de tanto tempo
naquele abraço, demasiado longo e demasiado apertado.
É fácil
sair de um castelo assim. Dizes que não e vais embora. Mas estás sozinho e ir
embora é ficar de facto sozinho. E vales tão pouco que ninguém vai nunca mais
gostar de ti e os teus amigos foram embora porque não lhes podias dar nada
presa naquele abraço tão longo e tão apertado que me diziam que era amor. E
agora já nem sabes quem és, porque o que eras era tão mau, tão feio, tão
terrível que tiveste que mudar tudo ali naquele abraço. Estás sem ti e sem mais
ninguém. Já só existem aqueles braços à volta da tua cintura.
É fácil
saber o outro preso num castelo assim. É fácil ver aqueles homens e aquelas
mulheres presos num abraço que sufoca e às vezes mata. É fácil de saber, são
tantos aí mesmo ao pé de ti. O difícil é querer saber.
Achas
que estes casos são contos de faz-de-conta? Um estudo realizado em 2014 sobre a
prevalência da violência do namoro diz-nos que não. Numa população de 4 667
jovens com idades entre os 13 e os 29 anos, 25,4% confessaram que tinham sido
vítimas de, pelo menos, um ato abusivo no último ano e os comportamentos
emocionalmente abusivos são os que mais causaram vítimas, e não a agressão
física.
Olha à
tua volta e ajuda-os a sair do castelo:
APAV,
Gabinete de Apoio à Vítima
Centro
de Recursos Sociais da CM Porto
Rua da
Fábrica Social, 17, Piso 2
4000-201
PORTO
tel 22
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do ICBAS-UP